Quarta-feira, 29 de setembro. Madrugamos, de novo….
O sacrifício para subir o Vulcão Villarica começa bem cedo ao abrir os olhos: 05h40min encontramos nosso guia Mauricio da Paredon Andes Expedition para tentar fazer a escalada. Ninguém sobe a montanha sem estar acompanhado do guia.
O Vulcão Villarica é um dos mais ativos do Chile. Possui cerca de 2800 m de altura e seu cume, nevado, expele fumaça constantemente. O vulcão está situado no Parque Nacional Villarica. Este parque possui um centro de ski, aberto durante o inverno, e a Termas de Palguín. O acesso ao parque está mais próximo de Pucón do que de Villarica.
Acessórios e equipamentos para a escalada são fornecidos pela agência e incluem:
botas;
crampons: um acessório com garras para ser acoplado à sola das botas e que seria utilizado nas partes mais íngremes da escalada sobre o gel0;
bastões: iguais aos que utilizamos para esquiar;
piolet: um pequeno bastão com uma lâmina pontuda em uma das extremidades que seria usado para travar e frear nosso corpo caso escorregássemos;
capacete;
uma pranchinha sobre a qual deslizaríamos de esquibunda na descida; e,
mochila de alpinismo.
De nossa parte a recomendação para subir a montanha no final do inverno era: não esquecer de usar meias grossas, calças térmicas e impermeáveis, casaco de lã e luvas. Na mochila, levamos lanches, muita água, protetor solar e o mais importante: óculos de sol.
É arriscado subir o vulcão coberto de neve sem os óculos. Conforme se avança pela montanha e o sol bate na neve e no gelo, os olhos queimam e temos dificuldades de abri-los. Naquele dia, acima das nuvens que cobriam a pequena Pucón, fazia um sol de rachar qualquer calçadão de Copacabana! Portanto não se deixe enganar pelo mau tempo, a subida ao Villarica vai muito além das nuvens…rs
Iniciando a subida por volta das 7h da manhã.
Em relação ao preço, o trekking no villarica nos custou 150 dólares. Nosso guia, um experiente alpinista, era exclusivo. Mas no final isso acabou se tornando um problema. Acho que o melhor é ter dois guias, pois certamente alguém vai desistir no meio do caminho e aquele que ainda tiver disposição vai ficar furiosamente frustrado! Por razões de segurança, os guias não permitem que ninguém desça ou continue a subida sozinho.
Não é preciso experiência em alpinismo para subir o Villarica, apenas um pouco de preparo físico para, no inverno, subir por cinco ou seis horas a montanha nevada. Por sinal, subi-lo com neve profunda exige muito mais esforço e preparo do que subi-lo nos meses de verão, quando a neve concentra-se próximo ao cume.
Dezenas de pessoas sobem o vulcão. É muita gente mesmo! De todas as idades (claro que menos as crianças), pesos e nacionalidades!
Trekking no Villarica (2847m de altitude)
Mas nosso dia de alpinista não durou muito…..Obviamente, nós não chegamos ao topo e nem nenhum dos brasileiros que estavam com outros guias, o que acabou nos consolando! A subida normal dura de quatro a cinco horas. Sedentários como nós chegam na metade da montanha por volta do meio dia. Tarde demais! Corre-se o risco de não chegar a tempo na cratera localizada no cume, pois por volta das 17h todos precisam estar finalizando a descida que dura cerca de duas horas. O ideal é que se chegue até as 14h. Pelo menos foi o que o nosso guia nos disse!
Quando chegamos na metade, próximo ao final do teleférico (o teleférico é usado pelos esquiadores, mas as pistas estavam fechadas naquele dia), passamos por um trecho extremamente íngreme, que nos fez perder a medalha. Nesse ponto é preciso andar em ziguezague, uma tática utilizada pelos montanhistas para facilitar a subida em trechos mais íngremes. Segundo o nosso guia, assim cansaríamos menos. Até parece! Esbaforidos, desistimos por ali mesmo.
Mas apesar do nosso fracasso, o visual já na metade da montanha é impagável! Acima das nuvens, sobre um céu azul e sol forte, observamos a imensidão dos andes e belos cumes nevados. Avistamos outros vulcões como o Quetrupillán e Lanin! Observar tão de perto o cume do Villarica cuspindo fumaça é outra coisa surreal!
A descida do vulcão também é muito legal, pois em grande parte do percurso é preciso descer de bunda, sentado sobre a pranchinha! Em alguns momentos, rola um certo medo mesmos para os mais experientes em esquibunda como nós (já havíamos vivido essa experiência em Bariloche no ano anterior), pois aquilo é íngreme demais!
Finalmente, tenho que dizer, orgulhosamente, que fomos a primeira expedição a chegar a montanha naquela manhã e também, a primeira a ir embora. Menos mal que no meio do nosso divertido esquibunda, já era possível avistar uma outra penca de fracassados desistentes como nós. Mais tarde descobrimos que a maioria era brasileiro.
Apreciando o cume de outro vulcão, acima das nuvens, durante o trekking no Villarica
Descendo por volta do meio dia….
Como disse acima, acredito que fazer este trekking no verão aumente consideravelmente as suas chances de sucesso. A neve torna o percurso extremamente cansativo desde o início, bem antes de começarmos a subir suas faces mais íngremes. Em setembro e outubro, a estação de ski só funciona nos finais de semana. Uma pena, pois creio que o teleférico da estação adiantaria boa parte do nosso caminho, pois nos levaria praticamente até a metade da montanha! Apesar de não termos esquiado no Villarica, as pistas eram muito boas para iniciantes!
Bom, depois dessa jornada, não preciso dizer que voltamos para a nossa cabana e não nos restou forças para mais nada além de dormir…
Cratera do Villarica (Foto gentilmente cedida pelo guia Mauricio da Paredon)
Ótimo relato! Pena não terem conseguido chegar até lá em cima. Interessante a dica sobre o teleférico!
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