Depois de algumas pesquisas, decidimos fechar a nossa travessia do Atacama ao Salar de Uyuni com a Cordillera Traveller, que é uma empresa bastante conhecida e com ótima estrutura na região.
Já falamos em outro artigo que fizemos a versão privada da travessia, ou seja, embarcamos eu e meus amigos em um carro só nosso, com motorista e guias exclusivos, além de hospedagens em hotéis ao invés de “abrigos”.
Nesse post, vou contar como é o roteiro da Cordillera Traveller, os pontos de interesse e compartilhar com vocês a tabela de altitudes de cada parada dessa rota, para você já começar a aclimatar seu pensamento!!
O roteiro da Cordillera Traveller, do Atacama ao Uyuni
Dia #1: o mal da altitude e os desertos clássicos
Saímos do nosso hotel Parina Atacama por volta das 8h rumo à aduana chilena. Chegando lá, nos deparamos com uma e-n-o-r-m-e fila!! E desde então já contamos com o help da nossa guia chilena, que nos guardou o lugar até que saíssemos da Van e pegássemos nossa documentação.
Uma hora depois ( essa parte da travessia é muito chatinha!), a van guiada por um motorista chileno nos levou até a fronteira com a Bolívia em Hito Cajón. Aos pés do belo e místico vulcão Licancabur, Alejandro, nosso motorista faz-tudo boliviano, já nos esperava em uma Toyota Land Cruiser 4×4 em perfeito estado!
Os trâmites para imigração na Bolívia foram patéticos…acho que sequer fizeram a conferência cara x crachá. Foi ali também, em uma saleta anexa, que serviram o nosso café da manhã básico: pães, queijo, presunto, café e chocolate quente.
Seguimos viagem por poucos minutos e paramos na “alfândega” boliviana. No galpão, preenchemos um formulário e deixamos na mão do senhor que parecia dormir na cadeira. Ali também, pagamos pela entrada na Reserva Boliviana.
Até a primeira parada na Laguna Blanca, fomos acompanhados pelo comboio da Cordillera Traveller que levava em três carros a galera do tour regular. Pouco tempo depois, só o encontraríamos novamente na parada para almoço. O deserto foi só nosso por um bom tempo.
No tour da Cordillera Traveller, os almoços costumam ser servidos em instalações próprias da empresa, independente se você está no tour regular ou no privado. Nosso primeiro almoço foi servido no hostel onde a galera do regular iria pernoitar.
O primeiro dia desse roteiro é o mais puxado e com o maior número de parada. Atravessamos paisagens deslumbrantes com lagoas coloridas em tons de verde, azul e até vermelho; passamos por locais totalmente inóspitos e impressionantes com formações rochosas inacreditavelmente esculpidas pelo vento ou por erupções vulcânicas milenares. Visitamos geysers fedorentos, relaxamos em uma piscina geotermal e encerramos o dia em um deserto clássico, daqueles que os livros de geografia nos mostram: o deserto de siloli – o mais elevado do planeta.
Também é no primeiro dia que sentimos mais os impactos da altitude sobre o corpo. Não bastasse atingirmos em algum momento os 5000 metros de altitude, pernoitamos no hotel Tayka do Deserto, que fica há aproximadamente 4700m.
A noite, do lado de fora, os -10ºC tornavam a calefação de um quarto com paredes de pedras, um desafio.
Os jantares no tour privado são daqueles em estilo caseiro, menu do dia. Na rede Tayka, são servidos às 19h. Sempre tem uma sopa de entrada, o prato principal e uma sobremesa. Tudo incluído no pacote, com exceção das bebidas.
Leia sobre a rede Tayka nesse post: Do Atacama ao Salar de Uyuni em tour privado





Dia #2: lagunas altiplanicas e vida selvagem
Os dias na travessia do Atacama ao Uyuni em tour privado, começam cedo mas não acabam tarde. Por volta das 7h30 tomávamos nosso café para deixar o hotel antes das 8h30.
O café da manhã nas duas primeiras hospedagens era simples, mas farto e gostoso.
No segundo dia, deixamos o Tayka do Deserto para encarar um roteiro que inclui as lagunas altiplanicas bolivianas e um verdadeiro safári no deserto montanhoso dos andes. E encontrar a fauna andina, acabou sendo para mim, o ápice desse dia.
Começamos pelo Caminho dos Incas, onde poderíamos fazer uns dos trekkings propostos para o dia. Mas considerando a terrível noite onde alguns de nós foram nocauteados pelo mal da altitude – o soroche – achamos prudente a lei do menor esforço. Preferimos interagir com as viscachas e as raposas que encontramos pelo caminho.
As lagunas do segundo dia, ouso dizer, são mais belas que as do primeiro. A sensação de dirigir no meio do nada também se faz presente, assim como no primeiro dia. Apenas nas lagunas próximas ao hostel em que almoçamos, encontramos outros carros e turistas.
No altiplano a paisagem dos andes é menos desértica. Cruzamos campos verdes em alguns momentos, passamos por novas formações rochosas, vulcões ativos e o pouco antes de encerrar o dia, atravessamos literalmente o deserto de sal Chiguana.
Chegamos no inóspito vilarejo de San Pedro de Quemez por volta das 16h30 para nos hospedarmos no Tayka de Pedra, localizado em uma pequena colina, ao lado de umas ruínas centenárias.





Galeria Fauna Andina
Dia #3: finalmente, o Salar de Uyuni
Apesar de toda grandiosidade e beleza que nos acompanha durante a travessia até o salar de Uyuni, é por ele que supostamente fazemos toda essa loucura de nos jogar no inóspito e desafiar nosso corpo diante dos extremos de altitude, aridez e temperaturas. Mas, de verdade, a jornada até ele é tão gratificante quanto.
Finalmente, era o dia de conhecer o maior deserto de sal do planeta. O Salar de Uyuni não está muito longe de onde pernoitamos. Nossa guia e o motorista boliviano nos ofereceram testemunhar o nascer do sol no deserto durante nosso já rotineiro jantar em grupo – nossas refeições eram sempre com todos juntos, incluindo nossa guia e nosso motorista, e nessas oportunidades conversávamos muito e acabávamos no sentido verdadeiramente uma equipe. Um clima muito bacana mesmo! – O sacrifício de acordar as 4:30 da madruga não foi consenso no meu grupo. Fui, evidentemente, voto vencido! Mas não tenho dúvidas de que teria sido uma experiência incrível.
Tomamos o café e deixamos o hotel por volta das 8h em direção ao Salar.
No terceiro dia, se você abrir mão do nascer do sol , o roteiro inclui a parada em duas cavernas. A caverna das Galáxias que é formada por corais fossilizados e a mística caverna do Diabo que é um cemitério pré-inca onde ainda se preservam os restos mortais do povo Chullpa. Um lugar onde certamente, à noite, nós passaríamos bem longe…rs. Os bolivianos não costumam entrar nessa caverna.
Mas logo após a perna macabra do passeio, a floresta de imensos cactos nos traz de volta à realidade andina e quando menos se espera, o manto branco de aparência infinita, surge no horizonte. O Salar de Uyuni é realmente impressionante e de tão branco, chega a doer os olhos.
Após cerca de 20 minutos atravessando o deserto de sal, paramos na Isla Incahuasi – uma ilhota rochosa coberta por cactos gigantes com mais de 700 anos de idade. Do cume do pequeno monte pudemos ter uma melhor noção da grandiosidade deste salar.
A ilha Incahuasi é o que restou de um vulcão que submergiu sobre o lago que ali havia há mais de 15.000 anos atrás. Caminhado pelas trilhas de Incahuasi é possível observar a fossilização dos corais e perceber o que um dia fora uma pequena praia. Dizem que os Incas faziam paradas nessa ilha ao atravessarem o grande lago, e no cume, por vezes, sacrificavam suas Lhamas como forma de oferenda.
Após a trilha até o cume da Ilha para ter uma panorâmica do deserto de sal, nosso motorista nos leva mais adentro do salar até encontrar um local onde não se via mais absolutamente ninguém. ( sim, vez ou outra, dava para ver uns pontinhos pretos bem distantes sinalizando carros em algum ponto do deserto!)
No nosso tour, devido ao horário do almoço que já nos aguardava na cidade vizinha de Colchani, não ficamos muito mais que 1 hora no Salar de Uyuni tirando as fotos clichês. E esse foi, talvez, o único ponto negativo dessa jornada!
Após o almoço, fizemos uma parada no cemitério de trens ( nada demais, viu?!) e fizemos check in no MARAVILHOSO hotel Luna Salada, por volta das 16h.
::Luna Salada: Como é o hotel de sal com vista para o Salar de Uyuni::



Galeria Deserto de Sal de Uyuni
Dia #4: o retorno conturbado
O último dia da travessia do Uyuni até o Atacama, geralmente é sem paradas cênicas. Nossa manhã estava reservada para umas comprinhas em Colchani, um almoço na comunidade de Villa Mar e o retorno para o Atacama, onde deveríamos chegar por volta das 17h.
Mas imprevistos acontecem nas montanhas….uma tempestade de neve caía sobre a fronteira da Bolívia com o Atacama em Hito Cajón e por isso, nosso retorno era incerto.
Alejandro, o motorista, não largou o celular e permaneceu em constate comunicação com a galera da Cordillera, que conduzia o retorno dos tours regulares e que aquela hora da manhã já subia o Hito Cajón, de volta à San Pedro de Atacama.
A possibilidade de mudança de rota se confirmou ainda pela manhã, antes do nosso almoço no hostel da Cordillera em Villa Mar. A tempestade de neve tornava o percurso extremamente perigoso e já havia carros presos por lá.
A alternativa foi mudar a rota e deixar a Bolívia por Ollague. Aos pés do vulcão fica a fronteira com o Chile para a cidade homônima, situada a pouco mais de 300 km do Atacama. Gente, esse é o tipo de coisa que você que tá pensando em atravessar sozinho jamais iria prever ou saber contornar.
Por conta desse imprevisto climático, Alejandro precisou fazer hora conosco nos andes bolivianos já que Ollague fica a quase três horas de distância do Atacama, onde nosso motorista chileno estaria nos aguardando. Bom, no final o motorista da Cordillera Traveller, super prudente e profundo conhecedor da região, nos levou a um lugar lindo – a laguna negra. Totalmente off-route, escondida no Vale de Las Rocas.
Neste dia, não vimos sinal da nevasca. Enfrentamos foi uma inacreditável tempestade de areia. Chegamos ao vulcão Ollague por volta das 17h, e no Atacama por volta das 23h. A equipe da Cordillera Traveller foi impecável nos cuidados e no zelo, e fez o possível para tornar o nosso retorno o melhor possível! E conseguiu!
Se recomendo? É claro que recomendo!!



Galeria Laguna Negra
Tabela de altitude
A tabela abaixo contém todos os pontos de interesse durante o itinerário que realizamos na travessia privada do Atacama ao Uyuni com a Cordillera Traveller, e as respectivas altitudes.

*As altitudes foram obtidas pelo altímetro da nossa guia, pelo site Elevationmap.net e pelo Wikipedia.
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Dicas úteis: bolivianos
- Durante a travessia é necessário levar bolivianos para as despesas pelo caminho.
- Na entrada do Parque Nacional, paga-se 150 bolivianos. A entrada para as piscinas Termas de Polques, caverna das galáxias e ilha Incahuasi custam 6, 20 e 30 bolivianos respectivamente (em 2017).
- Ao longo do roteiro, há alguns banheiros cujo ticket custa em média 6 bolivianos. Mesmo assim, será impossível não usar a naturaleza. Portanto, papel higiênico ou lenços umedecidos são essenciais.
- Reserve alguns bolivianos para as bebidas no jantar. Em média, uma coca-cola custa 15 bolivianos. Nos quartos dos hotéis da rede Tayka sempre há duas garrafas de água de cortesia.
Do Atacama ao Salar de Uyuni em tour privado
Luna Salada :Como é o hotel de sal com vista para o Salar de Uyuni
Roteiro de 8 dias nos Desertos Andinos | Atacama e Uyuni
Incrível seu relato, só de ler deu frio na barriga. Contando os meses.
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